Mensagens trocadas entre o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, e seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, reforçam as suspeitas da Polícia Federal (PF) sobre o envolvimento do atleta em um esquema de manipulação de apostas esportivas. O conteúdo das conversas, obtido a partir do celular de Wander, indica que ele teria apostado na aplicação de um cartão amarelo ao jogador durante uma partida contra o Santos, em 2023, e pedido dinheiro ao irmão após o bloqueio da premiação pela casa de apostas. As informações do Metrópoles.
Em uma das mensagens, enviadas em 9 de dezembro do mesmo ano, mais de um mês após o jogo em questão, Wander solicita R$ 4 mil a Bruno Henrique para pagar dívidas e pensão atrasada. O pedido veio após a casa de apostas suspender o pagamento de R$ 12 mil, valor que seria o retorno de uma aposta de R$ 3 mil feita por Wander. A justificativa para o bloqueio foi a suspeita de irregularidade na aposta.
“Coloquei [R$] 3 [mil] pra ganhar [R$] 12 [mil], e eles bloquearam por suspeita. Tô pensando aqui, se você puder fazer isso, você vai me salvar, de coração mesmo”, escreveu Wander. Em outro trecho, ele afirma que o cartão recebido por Bruno Henrique em campo foi parte de uma “ideia” que o próprio atleta teria dado antes da partida.
A resposta inicial do jogador foi confusa, afirmando não entender o que o irmão dizia. No entanto, no dia seguinte, Bruno Henrique respondeu sobre o “empréstimo” e, às 11h25, encaminhou o que parece ser um comprovante bancário, sugerindo que o valor solicitado foi enviado. “Pegando dinheiro vc paga em”, escreveu o atacante, recebendo como resposta: “Demoro, essa porra saindo eu te mando”.
As mensagens analisadas pela Polícia Federal se tornaram centrais no indiciamento de Bruno Henrique por estelionato e fraude em competição esportiva. Embora o celular do jogador não tenha revelado mensagens relevantes — parte das 3.989 conversas encontradas estavam apagadas ou vazias —, o conteúdo obtido no celular de Wander indicaria que o atleta participou do planejamento da aposta.
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Em outra conversa anterior à partida, Wander questiona: “Será que vai aguentar ficar até lá sem cartão?”, e Bruno Henrique responde que só tomaria o amarelo se “entrasse forte em alguém”. O irmão do jogador, então, afirma: “Investimento com sucesso”.
O cartão amarelo foi aplicado ao atacante nos acréscimos do jogo contra o Santos, após falta cometida em Soteldo. O lance foi considerado suspeito pelas casas de apostas, que acionaram a Associação Internacional de Integridade de Apostas (Ibia) e a Sportradar, que monitoram irregularidades no setor.
A investigação da PF foi impulsionada pelas denúncias das próprias operadoras de apostas, e o caso deu origem à operação Spot-Fixing, deflagrada em novembro de 2024. Bruno Henrique, seu irmão e outros envolvidos foram citados por atuarem em conjunto para manipular o chamado “mercado de cartões”, com o objetivo de lucrar em apostas esportivas.
O caso também foi analisado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que, no entanto, arquivou o processo no âmbito esportivo por falta de provas de que o jogador tenha obtido vantagem financeira. O inquérito criminal, contudo, segue em andamento sob responsabilidade da Polícia Federal.