sexta-feira, 07, fevereiro, 2025

adm.portalatualizado@gmail.com
(92)98474-9643

Caio André assume Cultura sob protestos de artistas amazonenses

A recente nomeação de Caio André (União Brasil), ex-presidente da Câmara Municipal de Manaus (CMM), para a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC) gerou uma onda de insatisfação e manifestações entre artistas e trabalhadores da cultura no estado. 

Diversos segmentos artísticos expressaram descontentamento com a escolha do governador Wilson Lima (União Brasil), que, segundo os críticos, optou por um nome sem um histórico relevante no setor cultural.

A mobilização coletiva ocorre em um momento decisivo para a cultura amazonense, um setor essencial para o desenvolvimento social e econômico da região. A cultura local não apenas preserva a identidade regional, como também impulsiona a economia por meio de diversas produções artísticas, como artes plásticas, audiovisual, dança, literatura, teatro e música.

Críticas à falta de experiência

A apresentadora e atriz Norma Araújo, conhecida como “Manazinha”, se manifestou nas redes sociais contra a nomeação. Em um vídeo publicado, ela expressou seu descontentamento, destacando que Caio André é o primeiro político a assumir a pasta, que, segundo ela, exige um entendimento mais profundo do setor cultural. 

“O Caio André é o primeiro político a assumir a Secretaria de Cultura, que é uma pasta delicada porque não é só boi, não é só carnaval, e o foco do Caio André é o boi de Parintins, onde rola muito dinheiro”, afirmou.

Norma Araújo também apontou que a troca de comando traz incertezas, especialmente sobre a possível substituição de toda a equipe e os impactos nos projetos em andamento, como editais e verba destinada a essas iniciativas.

“Eu estou muito triste hoje, porque eu sou amazonense e vejo o seguinte, a gente rema três passos para frente e 50 para trás. Agora, isso aí, questionável, totalmente questionável. Não tem nada a ver com o povo, o povo não existe. Povo é massa de manobra. O que vale são as articulações políticas para ganhar mais dinheiro aqui”, desabafou.

A nomeação de Caio André foi vista como uma decisão política, já que o ex-presidente da CMM não obteve votos suficientes para se reeleger nas últimas eleições, ficando a apenas 62 votos da vitória.

Já a gestão dele foi marcada por questionamentos sobre transparência pública, incluindo denúncias de funcionários fantasmas e a destinação controversa de emendas parlamentares.

Preocupações com a falta de diálogo

O cientista político e advogado Carlos Santiago avaliou a nomeação como uma decisão preocupante. “A Secretaria de Cultura merece um gestor com diálogo direto com os profissionais do setor”, destacou, ressaltando que 2025, sem grandes crises, poderia ser um ano de eficiência na busca por melhores indicadores culturais. 

Segundo ele, Caio André não tem experiência significativa no setor cultural e assumiu o cargo com grande rejeição por parte de artistas e profissionais da cultura.

“A nomeação de um político que não foi eleito para uma pasta tão sensível e importante, mas que ainda precisa de muita atenção: a Secretaria de Cultura, que já assume o cargo com uma grande rejeição por parte de alguns artistas e pessoas que, há muitos anos, se dedicam a atividades culturais. É preciso, sim, de um novo gestor para a cultura, mas é necessário também um diálogo com quem faz, de fato, cultura no Amazonas. E um setor tão importante como a cultura não pode ser tratado apenas como um setor político.”

Protestos e mobilização

Organizações culturais intensificaram suas críticas após a confirmação da nomeação, pedindo mais representatividade na gestão da SEC. Artistas temem que a falta de experiência de Caio André prejudique iniciativas cruciais, como o Carnaval, previsto para março.

A substituição de Cândido Jeremias, ex-secretário amplamente elogiado, intensificou o descontentamento. Jeremias era visto como um gestor técnico qualificado, o que torna ainda mais controversa a escolha do novo secretário.

Falta de experiência e as consequências

A principal crítica é a falta de experiência de Caio André no setor cultural. Embora tenha sido presidente da CMM e vereador, ele não possui um histórico relevante em políticas culturais, gerando insegurança no meio artístico. 

“Caio André, com formação em Direito e uma trajetória focada em Esporte e Política, não possui vínculos diretos com a Cultura, o que levanta questionamentos sobre sua capacidade de lidar com as demandas da área”, disse o gestor cultural Reviossonon Alberto Jorge Silva, coordenador do Festival Afro Amazônico de Yemanjá.

Reviossonon criticou também a falta de diálogo com as lideranças culturais da região e questionou a experiência de Caio André no campo cultural.

“A cultura no Brasil, especialmente com a reativação do Ministério da Cultura pelo governo de Lula, exige uma abordagem técnica, com ações planejadas que envolvem desde editais até conferências de cultura”, disse. Segundo ele, a nomeação de Caio André poderia agravar a situação já desafiadora enfrentada pela equipe da SEC.

Mobilização para o controle social

Reviossonon também se manifestou com relação ao controle social. “A classe artística e cultural não vai se calar. Nós não vamos cruzar os braços, não vamos nos dar por satisfeitos com isso. Vamos buscar conversar com o governador e pedir que ele entenda a nossa parte, compreenda a nossa preocupação. Se, contudo, o governador quiser manter, por uma questão partidária, por uma questão de acordos ou de capricho pessoal, o nome de Caio André, nós vamos cumprir o nosso papel enquanto movimento social, que é o de controle social”, afirmou.

Ele reforçou que, caso a gestão não seja bem conduzida, o impacto será negativo, afetando o fluxo de recursos federais para o Amazonas.

“Se essa gestão não tiver uma capacidade técnica, o impacto será negativo. Altamente negativo. E isso poderá emperrar, nos próximos anos, a vinda de recursos federais para o Amazonas. Porque, se de repente isso não for executado como deve ser, nós não vamos pensar duas vezes em denunciar isso. Não vamos pensar duas vezes em causar a confusão”, alertou.

Ele também ressaltou o sucesso da implementação da Lei Paulo Gustavo no estado, que pode ser comprometido. “O Estado do Amazonas conseguiu realizar 100% da Lei Paulo Gustavo. Isso é informação do Ministério da Cultura. E agora vamos correr o risco de ver tudo isso cair por terra por conta de um acordo político do governador Wilson Lima”, lamentou.

Preocupações com a continuidade dos projetos

O artista visual amazonense e ativista, Margem do Rio, também se manifestou sobre a nomeação, destacando a necessidade de um diálogo prévio entre o governador Wilson Lima e os representantes culturais.

“A escolha de Caio André não parece ser uma escolha baseada em competências”, afirmou Margem, lembrando que, durante seu trabalho na Câmara de Vereadores, Caio André apresentou apenas 11 projetos para a cultura, de um total de 160 propostas.

“Caio chega de paraquedas, justo em um momento de resultados de editais e continuações de projetos de 2024 ainda. Sempre nessas trocas de gestão, acontece a perda de frentes de trabalhos e projetos que já estão em andamento. Isso é uma bomba jogada nos projetos em andamento”, completou.

Margem do Rio também alertou que os artistas não aceitarão decisões impositivas e que a luta pela cultura no Amazonas continuará.

“Não aceitaremos ordem de cima para baixo, nossa conversa precisa ser na horizontalidade! Isso não é um favor, é um direito. Estamos falando de direitos básicos e elementares para a cultura na região amazônica e no Brasil”, concluiu.

Com o cenário de incertezas e tensões, a comunidade artística e cultural do Amazonas segue mobilizada para garantir que a gestão da cultura no estado seja conduzida com responsabilidade, diálogo e competência técnica.

A equipe de reportagem do Amazonas Em Tempo entrou em contato, por meio da assessoria, com o novo secretário de Cultura, Caio André, mas, até a finalização desta matéria, não obteve retorno. O espaço segue aberto para esclarecimentos.