Pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em colaboração com a Universidade de Harvard, identificaram níveis alarmantes de contaminação por mercúrio em peixes do rio Madeira. Durante expedição realizada de 16 a 30 de abril deste ano, no âmbito do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM), foram coletados exemplares de diversas espécies para análise.
Espécies não predadoras, como branquinha, jaraqui e pacu, amplamente consumidas pela população amazonense, apresentaram concentrações de mercúrio de até 16 mg/kg na região de Humaitá, município a 700 quilômetros de Manaus. Esse valor supera em 32 vezes o limite legal de 0,5 mg/kg estabelecido para consumo humano. Peixes predadores, como o tucunaré, também representam risco devido à bioacumulação do metal ao longo da cadeia alimentar.
As análises foram conduzidas no laboratório da Universidade de Harvard, sob a coordenação da professora Elsie Sunderland, toxicóloga e cientista ambiental, com a participação de seus alunos. A Central de Análises Químicas da Escola Superior de Tecnologia (EST/UEA), liderada pelo Prof. Dr. Sergio Duvoisin Junior, mapeou 84 pontos de medição ao longo do rio Negro e planeja expandir o monitoramento para incluir 63 locais no rio Madeira.
A reitora em exercício da UEA, Prof.ª Dra. Kátia Couceiro, destacou a importância do monitoramento: “O ProQAS é essencial para o Amazonas, pois os rios da região são a principal fonte de água potável e proteína para as comunidades locais. Precisamos alertar as pessoas, procurar soluções e cuidar da Amazônia.”
O Prof. Dr. Sergio Duvoisin Junior expressou preocupação com a intensa presença de balsas de garimpo na região, apontando que a atividade é responsável pela contaminação dos rios e, consequentemente, dos peixes. Ele estima que até um quarto do rio Madeira esteja comprometido, especialmente nos 100 quilômetros abaixo de Humaitá, onde já foram detectados altos níveis de mercúrio.
O barco Roberto dos Santos Vieira, equipado com laboratórios de análise da UEA, tem capacidade para monitorar 164 parâmetros de qualidade da água. “É emocionante, do ponto de vista científico, realizar esse trabalho. Entretanto, perturbador do ponto de vista humano. Sei que temos um grande resultado em mãos para que autoridades possam ter acesso e tomar as medidas cabíveis”, comentou Duvoisin.
A colaboração com Harvard, iniciada em 2008, tem se fortalecido ao longo dos anos, permitindo a troca de conhecimentos e a capacitação de estudantes da UEA nas técnicas de medição do metal. Para expandir os esforços, o coordenador do ProQAS/AM afirma que a universidade precisa de mais três embarcações similares à Roberto dos Santos Vieira, com um custo estimado de R$ 300 milhões para os 15 projetos que compõem o ProQAS/AM, visando um estudo completo dos rios da região nos próximos cinco anos.